Carne 'impressa' em laboratório na Bahia vence prêmio de inovação do Nordeste; entenda como proteína é feita

  • 12/12/2025
(Foto: Reprodução)
Entenda como é feita a carne 'impressa' em laboratório na Bahia Já imaginou produzir uma carne em laboratório? Há cerca de dois anos, cientistas do SENAI CIMATEC, de Salvador, desenvolvem a pesquisa da carne cultivada CELLMEAT3D, uma proteína que tem como objetivo ter os mesmos valores nutricionais da carne que você come no churrasco, mas feita com a "ajudinha" de uma impressora 3D. 🥩 A carne cultivada tem origem animal e as mesmas características de uma "carne normal". A diferença é que ela é feita através do isolamento de células, que vão para um biorreator e depois para uma impressora 3D. O animal não precisa ser abatido durante o processo. A pesquisa desenvolvida em Salvador é financiada pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e ainda está em etapa preliminar – o que significa que a carne ainda está em fase de estudos. Apesar disso, para a farmacêutica e pesquisadora Keina Maciele, uma das líderes do projeto, o estudo aponta para um futuro inovador na indústria alimentícia. “As pesquisas apontam para um aumento populacional nos próximos anos, então vamos precisar aumentar a produção de alimento e vamos precisar de formas alternativas para fazer isso. A carne cultivada é uma opção”, explicou. 🏆 A pesquisa venceu o prêmio Finep Nordeste de Inovação 2025 na categoria Agroindústrias Sustentáveis e agora está apta para concorrer na disputa nacional. Da esquerda para a direita, os pesquisadores Caio Oliva, Juliana Pitanga, Jaqueline Vieira, Keina Maciele, Jônatan Pires e Izamir Miguel Malu Vieira/ g1 BA O g1 foi até o laboratório do SENAI CIMATEC para entender como a proteína é feita e quais são as expectativas da pesquisa. Nessa reportagem você vai entender: A diferença da carne de origem animal e da carne cultivada; Como é feita a carne cultivada; Quais são as vantagens desse tipo de carne; Regulamentação no Brasil; Desafios da produção. Diferença entre as carnes Modelos de carnes impressas no laboratório do Senai Cimatec, em Salvador Malu Vieira/ g1 BA As duas carnes têm origem animal e a diferença entre elas é a forma como são obtidas. Enquanto a "carne normal" é obtida através da criação e abatimento de bovinos, a carne cultivada é feita através do isolamento de células de animais. As células são obtidas através de uma biópsia e os animais não precisam ser abatidos. O objetivo é que carne cultivada tenha os mesmos valores nutricionais da carne convencional. 📲 Clique aqui e entre no grupo do WhatsApp do g1 Bahia Como é feita a carne cultivada Fazer uma carne em laboratório não é um processo simples, nem barato. São necessários equipamentos como biorreator, impressora 3D, além de insumos farmacêuticos. Entenda o processo da carne cultivada de forma simplificada: 🧬 Uma amostra é retirada de um animal vivo através de uma biópsia; 🧬 Dessa amostra, são separadas células do animal; 🧬 Essas células são alimentadas com nutrientes e fatores essenciais disponibilizados em um meio de cultivo. Através dele, as células se “sentem” dentro do corpo do animal e se desenvolvem com as mesmas características; 🧬 As células imersas no meio de cultivo são colocadas em um biorreator, onde se multiplicam; 🧬 No computador, os pesquisadores esquematizam comandos como textura, quantidade de gordura e formato da carne. Esses comandos são repassados para a impressora 3D, que através do material obtido no meio de cultivo, imprime a carne. Biorreator utilizado na pesquisa da CELLMEAT3D Malu Vieira/ g1 BA 🧫 Os cientistas ainda não sabem informar a quantidade de carne que pode ser feita com uma biópsia, porque a pesquisa ainda não chegou ao produto final. Apesar disso, a ideia é que, no futuro, haja um banco de células estabelecido para que não seja necessário recorrer sempre a biópsia. ⚠️ Na visita do g1 ao laboratório, foi feita uma simulação desse processo. Na demonstração, a impressora 3D imprimiu uma espécie de forma onde as células animais podem ser implementadas depois. O processo que já imprime a estrutura com as células não pode ser feito com visitas ao laboratório, devido ao risco de contaminação. Vantagens da carne cultivada As principais vantagens da carne cultivada são os impactos ambientais. Segundo a pesquisadora Keina Maciele, há uma redução de até 60% de consumo de água quando comparado ao processo comum da agropecuária. Além disso, não há sofrimento animal, já que os bovinos não precisam ser abatidos durante o processo. Basta um pequeno corte para retirar as células necessárias para a produção. 'BioFemme': projeto incentiva estudantes a se tornarem cientistas em cidades da Bahia Outro ponto destacado pela cientista é o menor risco de contaminação, já que as carnes cultivadas são feitas em laboratório, em um ambiente controlado. A bioengenheira Jaqueline Vieira, que também participa do projeto, ainda reforça a possibilidade de fazer alterações de textura na carne, para beneficiar pessoas com sensibilidade, por exemplo. ''Podemos implementar vitaminas para pessoas que estejam com deficiência, por exemplo, e até mudar a textura da carne para pessoas neuro divergentes que tem seletividade alimentar devido a textura da carne'', pontuou. Apesar disso, o intuito da carne cultivada não é substituir a carne convencional. O objetivo é funcionar como uma alternativa possível para produzir mais alimentos, sem a necessidade de abatimento de animais. Regulamentação Carne feita em laboratório pelos pesquisadores do Senai Cimatec Arquivo pessoal Apesar de já ser produzida e vendida em outros países, no Brasil ainda não existe regulamentação para as carnes cultivadas. Ou seja, elas não podem ser comercializadas, nem consumidas. A pesquisa desenvolvida no Centro de Competências de Proteínas Alternativas do SENAI CIMATEC é a única feita na Bahia e uma das poucas do Brasil onde os pesquisadores estudam todas as etapas do processo. "É desafiador estar a frente de uma pesquisa tão disruptiva, mas igualmente inspirador, porque colocar o pesquisador na vanguarda do desenvolvimento de uma nova tecnologia", afirmou a cientista Keina Maciele. Ainda segundo ela, farmacêuticos, gastrônomos, engenheiros de alimentos, nutricionistas e outros profissionais do centro participam da pesquisa para analisar todo o processo de produção e as características do produto final, que precisam ser iguais ao da carne comum. 🔍 Como não pode ser consumida, um equipamento é usado para medir a textura, mastigabilidade e outras características da carne. Ele funciona como uma "mastigação" e compara os índices da carne cultivada com o da "carne normal". Desafios de produção "O grande desafio é deixá-la mais barata, fazer com que ela seja acessível", afirmou Keina. Além dos equipamentos, os insumos farmacêuticos necessários para fazer o meio de cultivo das células animais são caros. O objetivo dos pesquisadores é que, ao longo dos anos, sejam encontradas alternativas mais baratas para essa etapa. Com menos custos no processo de produção, será possível comercializar as proteínas por um preço mais acessível quando houver uma regulamentação no país. Investimento em pesquisas e projetos A Bahia é um dos estados que mais investem em ciência, tecnologia e inovação. Em maio deste ano, o governo federal anunciou um investimento de R$ 67,3 milhões para o desenvolvimento de ações inéditas voltadas ao fortalecimento e à popularização da educação científica nas escolas. O programa Mais Ciência na Escola foi um dos destaques da agenda, com investimento de R$ 18 milhões pelo Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação. O Governo da Bahia também revelou que faria um aporte de mais R$ 3 milhões para a criação de clubes de ciência, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). As ações contemplam comunidades quilombolas, indígenas, ribeirinhas, pescadores artesanais e moradores de pequenos municípios. O objetivo é promover o acesso à ciência como ferramenta de transformação social e desenvolvimento sustentável. Conheça robô baiano que representa o Brasil na 'Copa do Mundo de Robôs' Em 2025, o estado também recebeu duas ótimas notícias relacionadas ao mundo da tecnologia: 🤖 Em julho, Salvador reuniu delegações de 40 países no Campeonato Mundial de Robótica e Inteligência Artificial (RoboCup), evento global de robótica. 💰 Um pacote de obras, investimentos e projetos para o Parque Tecnológico da Bahia foi anunciado pela Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti). As iniciativas incluem a interiorização das políticas de CT&I e a aproximação entre universidades públicas e o setor produtivo. Veja abaixo outros projetos tecnológicos e inovadores desenvolvidos por estudantes baianos: Canudo ecológico a partir da casca do ovo Estudantes baianas contam como surgiu a ideia para desenvolver um canudo comestível Um grupo de estudantes do Colégio Estadual de Tempo Integral Anísio Teixeira, na cidade de Palmas de Monte Alto, a 718 km de Salvador, desenvolveu um canudo ecológico a partir da casca do ovo. A ideia surgiu em sala de aula e foi colocada em prática por Maria Alice, Luma Badaró e Lorrany Lopes com a ajuda de professores orientadores. (Saiba mais) Bronzeador sustentável com buriti e hibisco Estudantes baianas utilizam buriti e hibisco para criar bronzeador sustentável Um projeto desenvolvido por quatro alunas do Colégio Estadual Professor Carlos Valadares, em Santa Bárbara, a cerca de 35 km de Feira de Santana, une ciência, sustentabilidade e valorização da biodiversidade nordestina. Batizado de “Sol Dourado”, o produto é um óleo corporal que pode ser usado como bronzeador e pós-bronze, regenerando a pele e realçando o tom dourado de forma natural. (Saiba mais) Luvas biodegradáveis à base de sisal Estudantes do sertão da Bahia criam luvas biodegradáveis Arquivo Pessoal Um projeto desenvolvido por alunas do curso técnico em Análises Clínicas do Centro Territorial de Educação Profissional (Cetep) Araci, a aproximadamente 107 km de Feira de Santana, ganhou repercussão nacional por aliar inovação, sustentabilidade e impacto social. As luvas biodegradáveis feitas a partir de fibras de sisal — planta símbolo da região — surgiram como resposta a problemas ambientais, de saúde e de valorização dos recursos locais. (Saiba mais) LEIA TAMBÉM: Bahia investe em pesquisa para alavancar mineração sustentável e inclusiva Tecnologia permite que cliente faça 'raio-x' de roupas e descubra em quais peças o algodão da Bahia foi transformado Veja mais notícias do estado no g1 Bahia. Assista aos vídeos do g1 e TV Bahia 💻

FONTE: https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2025/12/12/carne-feita-em-laboratorio-na-bahia-vence-premio-entenda-como-proteina-e-feita.ghtml


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